É obscura a origem do Homo Espertus Corruptus. Fala-se em variação anômala do Homo Sapiens, na descendência de Caim - os pais, envolvidos com a serpente e a maçã, não lhe teriam transmitido valores e princípios. Outra hipótese é a involução de uma ameba presente no lodo do Rio Tietê, o que justificaria a predileção por mares de lama. Já a origem da palavra, corruptela do latim, é clara: coração rompido.
O Corruptus tem características peculiares. Veste colarinho branco, ama política e lava dinheiro com OMO. Discreto, age por baixo dos panos e defende o sigilo de seu território bancário com unhas, dentes e serra elétrica. Idolatra Judas Iscariotes e leva a sério o lema da prostituta “É dando que se recebe”. Apesar de caçar em bandos e quadrilhas, é individualista e solitário. Do rosto sai serragem, obrigando-o a substituir a loção pós-barba por óleo de peroba. Cresce às custas do voto e omissão da sociedade, mas deliberadamente ignora suas regras. Até recentemente, seus recursos fundiários eram transportados em cuecas e malas. Hoje, prefere cartões corporativos. Alguns, marcados pelo estigma da estrela, tornam-se Corruptus após contato com o poder. A transformação inversa, de Corruptus em Sapiens, ainda não foi observada.
O dialeto da espécie inclui termos como armação, negociata, propina e caixa dois. Seu habitat é funcional: multiplica-se onde há condições favoráveis. Prefere climas tropicais de grandes amplitudes sociais. Camufla-se na folhagem eleitoral. Tem o RNA mutante dos vírus, o que impossibilita a criação de uma vacina preventiva. Mamífero, suga as tetas do Homo Sapiens, em parasitismo incansável. Aprecia laranjas e defende o PT - Pizza para Todos. No Brasil, concentram-se no planalto central, mas podem ser vistos em todas as regiões. Ocupam o topo da cadeia alimentar, desde que dois de seus predadores – Punição e Transparência – entraram em extinção. O crescimento só é refreado pelo canibalismo típico da espécie, Imprensa e Polícia Federal. Para se safar dos dois últimos, associam-se, em simbiose, a Advocatus Bempagus. Apesar dos grampos, a PF não consegue rastrear a fauna escondida no mar de lama. Ali nadam de braçadas polvos-dumbo (orelhas e pés enormes captam propostas indecentes e arrombam portas do erário); lula-sapo; tubarões vorazes e escorregadias enguias. Desovam em ilhas fiscais paradisíacas.
Híbridos, possuem abraço de tamanduá, lágrimas de crocodilo, olhos de lince, lábia de vendedor e memória de peixinho dourado. Dissimulados, esquecem, negam, mentem, inventam. Populistas, são benquistos pelo Sapiens pouco informado. Com extrema elasticidade ética, veiculam pestes gravíssimas. Se o contato for inevitável, proteção para os ouvidos, sinal da cruz e dente de alho são armas poderosas: muitos são vampiros sanguessugas.
Todo Homo tem seu preço. O do Sapiens é intangível – amor, felicidade, paz. No Corruptus, é cédula sobre cédula. Não dão ponto sem nó: “Topa, não topa. Morre aqui”. Suborno e chantagem. Magris e obesos, anões e gigantes, calvos e cabeludos usam e abusam do público para uso privado. Infiltram-se no Executivo, Legislativo, Judiciário, Forças Armadas, empresas privadas, igrejas, esportes, ONGs e universidades. Após lotearem a administração federal e seus recursos, relaxam e gozam. E recomendam que o Sapiens faça o mesmo.
Discute-se a razão para a preferência nacional. Para uns, é herança portuguesa. Outros culpam um meio-armador fumante que gostava de levar vantagem em tudo. Há quem atribua a PC Farias o modelo atual de ação. O certo é que estes santos do pau oco alastraram-se, com jeitinho, na sociedade. Hoje são endêmicos e daqui só saem para uma operação no Uruguai ou tratamento psicológico na Suíça, quando se sentem perseguidos. Safam-se sempre. CPIs (Corruptus Politicus Impunis) foram extintas, por inoperância, em países como Dinamarca e Canadá, mas persistem no Irã e Venezuela, nações que disputam conosco o ouro na Olimpíada Mundial de Impunidade.
A dialética do engodo é altamente contagiosa. Homo Sapiens contaminados adquirem DVDs piratas, molham a mão do policial para livrar-se de multas, pagam uma cervejinha para o funcionário público agilizar trâmites burocráticos, permitem que os filhos fraudem nas provas da escola. Uma pequena malandragem aqui, um tráfico de influência por pistolão ali, uma sonegaçãozinha acolá... E salve-se quem puder.
Há situações em que a realidade não tem a menor graça.
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3 comentários:
Paula,
Que paulada! Com perdão pelo trocadilho...
Outra classe tem-se associado à espécie: os bichos-artistas, malandrus que um dia "estiveram" do lado do povo e, hoje, são polvo do outro lado.
Passarei adiante.
Abraço destas Minas que um dia pariram um Tiradentes,
Pedro Ramúcio.
E há notícia de que atacam o fígado dos sapiens.Se proliferam rápido e estão gerando subespécies mutantes, os oportunistas chafurdantes.Vem causando moléstia grave no tecidus societae cujos sintomas descritos são o descrédito, a desesperança e o desalento.
muito boa tua crônica
abração
sou super fã da tua ironia tão estilosa, Maria Paula!
um bjo, com saudade,
Talita.
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