domingo, 13 de fevereiro de 2011

Se eu fosse você, conferiria




Na operadora da TV a cabo finalmente me atendem. Como não estou de posse do número de inscrição, a voz avisa que vai estar tentando localizar meu cadastro na Central. Passo nome, endereço, CPF, telefone, profissão - os dados não estão conferindo. Ela me orienta, sempre no gerúndio, a estar ligando novamente tão logo tenha o dito número em mãos.


Resigno. Chega uma hora na vida de todo mundo em que os dados não mais conferem. Pode ser o vestido que entrou apertado na cintura ( tem certeza que é 42?), o salário no fim do mês, justificativa de filho... Se bobear, sobra até para o marido, tão amado no particípio: um belo dia, falta gerúndio – se é que você está me entendendo. Simples assim, ad infinitum.

Aparências enganam, nem tudo que reluz é ouro, quem vê cara... Se a gente seguisse conselho de mãe e conferisse sempre, livraria de muitas e boas. Até o incrível galinho do tempo da infância ( se a camurça ficava azul, sol; rosa, frio; cinza, nublado – lembra?!) um dia encardia, perdia o efeito camaleônico e, desfeita a magia, ia direto para o lixo.

Modelo que diz “No início chorei de vergonha para tirar a roupa, mas a equipe gracinha me deixou super à vontade” é tiro e queda: a peladona já saiu de casa saltitante. O dentista afirma que o tratamento de canal vai doer só um pouquinho. Não confere, você pensa, ao sentir britadeira, pé de cabra e serrote na gengiva. A faixa “Procura-se cãozinho. Criança doente” eu já conferi: foi colocada por um senhor barbado, que pranteava o sumiço da pinscher Kika.

Olho vivo com o homem gentil, culto e espirituoso que você conheceu na sala de bate-papo virtual: ele pode ser um pervertido ou, pior ainda (?) – há de tudo neste mundo -, ele pode ser ela. Quando a esmola é demais, não custa conferir: esposa divertida, dedicada e compreensiva, que incentiva a saída do Clube do Bolinha para o chope das sextas-feiras, por exemplo. Você não tem sentido falta do Ricardo nesses encontros, não? Longe de mim colocar caraminholas na sua cabeça, que fique claro.

Uns se recusam a enxergar os fatos. Outros fazem o impossível para esconder-se da conferência alheia e a verdade só aparece depois que Inês é morta e já apertamos o verde para confirmar. Se em 2002 eu soubesse o que sei agora... Quem promete e esquece, perdoa e não esquece, governa e não sabe de nada, fuma e não traga, relaxa e não goza deveria receber carimbo permanente na testa: “Dados não conferem”.

Tudo que lançamos – dizem - um dia volta para nós em efeito bumerangue. Sei não... Se é recomendável não enganar o outro, melhor mesmo é conferir sempre. Como diria Millôr: "Quem confere ferro, com ferro será conferido".

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Um comentário:

Unknown disse...

Paula, o texto é ótimo.
Leitura gostosa e leve.
Valeu pelo divertimento!!!
Foi ótimo ter visitado seu blog.
Abrs.
Cynthia.