segunda-feira, 16 de maio de 2011

lero lero



tenho muito que não quero
não tenho tudo que quero
não quero cabelos brancos
nem rugas em volta dos olhos
quero olhares francos
quero voltar a Abrolhos
prefiro a rosa dos ventos
não quero a Rosa de Hiroshima
não quero lugar barulhento
quero nadar rio acima
dispenso amor ciumento
não quero vida de artista
quero ser do mundo turista
fazer da paz meu alento
quero revisitar Paris
reler Machado de Assis
céu, inferno, purgatório
esquecer o passado inglório
quero comer um bom bocado
quero pra sempre ser magra
em Lisboa viver meu fado
nunca pegar ninguém no flagra
quero aprender sapateado
balançar na Torre de Pisa
quero quero tanta coisa
mas chega de lero lero
sei lá se um dia esmoreço
e quedo de asa caída
no cômputo geral da vida
tenho menos do que quero
muito mais do que mereço


* diálogo com o poema "Belo belo" de Manuel Bandeira

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