domingo, 8 de maio de 2011

Para acontecer poeta

( por Márcio Ares da Silva)



"O poeta é um mundo encerrado num homem" Victor Hugo


Se esse verso fácil é poesia, eu sou - reconheço e confesso - uma fraude.
E nenhuma graça me justifica.
Quero a palavra que engasga e faz doer a alma, nublar a minha paz por
dias infinitos.
Quero a incerta ordem da página,
o risco indormido, além da madrugada,
o inquieto imaginário de fantasmas.
e, por último, justo e exato, quero que o verso não seja fácil
porque de escuro se veste a claridade
dizendo rosa o espinho disfarce.

À força da mão meu coração que se dobre
e sangre arco-íris no verso encantado.
E enquanto calado eu fique, seja este o tempo que me baste.
Tudo o mais é vontade por dizer, é mar sem barco ou estrelas, a vida
sem crer, ânsia de se libertar.

Seja meu o instante sem saber. Doa a mim a palavra por inventar.
Não quero fácil existir, simplesmente,
e dizer que existo, igual a tudo, para toda gente,
sem essa coisa inominável a que se chama, através dos tempos,
talvez poesia, talvez amor, talvez demência.

Que eu, filho do mais doído mistério,
traga à luz as palavras primeiras, únicas, estranhas ou belas
a inaugurar esse parto dos homens, grávido que estou de longes, ondes e quandos
que ainda não se fizeram.

Eu vou parir Deus com o meu verso.
E vou parir o demônio.
E vou engravidar os nomes que se puserem no caminho desse ofício, ou
dessa coragem,
para que a melodia dos nomes desperte o grito alado das palavras.
Para que eu nunca, jamais, em tempo algum me contente
com o instante fácil do verso
e não me confesse uma fraude.

Márcio Ares da Silva maio/2011
http://www.marcioares.blogspot.com/

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