terça-feira, 9 de novembro de 2010

O repouso do guerreiro



Esta é uma daquelas histórias com moral, inspirada em diálogo entreouvido em capítulos no restaurante onde almoço algumas vezes por semana.


Ela, loura e linda, ainda não chegou aos 30. Ele, que já deve ter tido cabelos mais castanhos e em maior quantidade, atravessou o portal dos 50 faz tempo. E todo mundo sabe (ou deveria saber) que, ao contrário dos de menos de 30 que vão direto ao assunto e instantes depois estão prontos pra outra, após os 50, os preparativos e a recuperação são mais longos que a ação propriamente dita.


Ela, a cem por hora. Ele, em ponto morto, naquele interstício de fadiga e espera, em que o combustível que esvaiu-se do tubo ainda não chegou ao tanque original – coração e pulmões.

- Benhê...


- ...


- Benhê...


- Não começa, Maria Alice. Tira o dedo do seu pé da sola do meu.


- Uai, por que? Tá te incomodando?


- Está me desconcentrando.


- ...


- Não faz essa cara, querida. Eu sei onde seu dedinho quer chegar. Mas também sei que Ele aqui não vai a lugar nenhum. Não agora.


- Ta. Então vamos conversar.


- ...


- Fala alguma coisa, vai...


- Quem disse que precisa conversar?


- Não entendi...


- É, onde está escrito: na Bíblia ou no Kama Sutra?! Por que não falar tudo antes, durante??? Por que tem que ser depois?!


- Puxa, que mau humor, hein?!


- Chega pra lá, vamos dormir um pouco.


( ... )


- Benhê... pega um copo dágua pra mim?


- Outra vez?! Precisa ver se você não está diabética...


- ... com três pedras de gelo.


- Tem que ser agora?


- Por favor.


- Já vou pegar... daqui a pouco.


( ... )


- Armandô ... Continuo com muita sede...

Ele foi. Sem força e sem vontade, mas foi. Quando sentiu os efeitos do ar frio da geladeira, pensou em Laura. O que ela estaria fazendo àquela hora? Não sabia. Mas de uma coisa ele sabia: se ela ainda estivesse ali, não ia ter essa de puxar papo ou buscar água... O que ela dizia mesmo? Ah, que mulher que não cai no sono depois, é porque não gozou.


Bateu muita saudade naquela hora. Sem gozação.



Moral da história:

Evite assuntos muito pessoais em restaurantes.
Acaba virando papo crônico. Ou crônica.
.

3 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

Maria Paula,
seu ouvido é mordaz...rsrsr

Unknown disse...

Que show, Maria Paula!

Confesso que fiquei mesmo com peninha da rã.


Beijos

Mirze

Dalva M. Ferreira disse...

Super super.