quarta-feira, 29 de junho de 2011

as duas coisas


"Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
Não é. A coisa mais fina do mundo  é o sentimento"
in Ensinamento, Adélia Prado



De deles, só a força dos braços e o sentimento no coração. Dar conta de tanto filho demandava sacrifícios. Duas coisas Mãe e Vó nunca deixaram faltar. Uma era lápis e cadernos, coisa mais bonita ver a meninada preencher as folhas brancas com as palavras que supitavam das suas entranhas. E quando os cadernos já não cabiam mais de tanta sabedoria, carvão riscava o cimento do terreiro, os passeios da rua... Cansei de ver Mãe, na lida da casa, ajudando menino com lição da escola. No passar da trouxa de roupa limpa, ela suava a alegria de alisar junto o futuro da ninhada. Quando todos iam dormir e a casa dava guarida à paz, ela enredava, em longas conversas com o silêncio, o melhor jeito de  fazer vingar nos meninos a ânsia de perseguir as respostas que podiam escancarar olhos pra por reparo cada vez mais além.

A outra coisa que nunca faltou foi sentimento esparramado. Mira, seu moço, pra enxergar não basta ter olho, merece ver o lado de dentro. Carece desver pra então por tento com o olho do coração, onde pousa a boniteza maior. Daí que a formosura não é das gentes nem das coisas, mas do jeito que o olho de dentro espia o mundo.

O tempo atravessa tudo, seu moço. Estudo sem ternura no peito nunca que serve pra nada. É no amor que está o começo, o meio e o fim de toda caminhança.
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