terça-feira, 11 de maio de 2010

De poeta e de louco

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Metade de mim é alguém
Que pesa, apreça, pondera
Outra metade é ninguém
Leve, sem pressa, pudera!

Parte de mim é esteta
A la Ferreira Gullar
A outra, vida concreta
Urge que eu vá trabalhar

De perto, a parte ternura
Crê, treme, sonha, reluta
Ao longe, o lado bravura
Não teme, assanha, disputa

Dentro de mim vive um ente
Que fala e sabe de Tudo
O seu vizinho, demente
Nada, surdo, cego, mudo

Minha porção bissetriz
Reparte a arte, esquarteja
Faz sua parte, a infeliz
Descarta a alma, esbraveja.

A face poeta projeta
Panfleta sua arte bruta
A parte asceta é profeta
Aparte: sou anjo biruta.

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* Traduzir-se in Na vertigem do dia

5 comentários:

Anônimo disse...

Que bom que voltou!

Abraços.

Adriana Riess Karnal disse...

sempre com toque de humor, uma delícia de poema.

Anônimo disse...

Muito bom isso!

Beto Guimarães disse...

Pela primeira vez acesso seu blog. Surpresa: nenhuma. Não poderia ser de outro modo, uma vez que tudo aquilo que você faz, além de inteligente, tende atingir a perfeição. Grande abraço.

tenenteares disse...

Agora, que eu já sei fazer comentários (que cara chato, né não? Ficar falando isso toda vez??????), lá vai mais um: esses intertextos seus são maravilhosos. Muito bem articulados. Com a mesma, ou melhor, alma.

Márcio Ares.